segunda-feira, 10 de junho de 2013

Análise do Líquido Cefalorraquidiano (líquor)

O líquido cefalorraquidiano - ou apenas LCR - é um fluido biológico que está em íntima ligação com o sistema nervoso central (SNC) e com seus envoltórios, também chamado de meninges.
É responsável por distribuir nutrientes pelo tecido nervoso, retirar resíduos metabólitos e servir de barreira protetora contra choques e pressões que venham a acometer o encéfalo e a medula espinhal.
Por hora, cerca de 20 ml são produzidos nos plexos coroides.
A análise do líquor é indicada em casos de infecções do SNC e seus envoltórios, processos desmielinizantes, leucemias, linfomas, imunodeficiências, hemorragias etc.
É contra-indicado para indivíduos com hipertensão intracraniana e com problemas de coagulação.

Obtenção da amostra                                                                                                                                        

Normalmente é colhido por punção lombar entre a 3ª e a 4ª vértebra ou entre a 4ª e a 5ª , uma quantidade de 10 ml.
Faz-se necessário tomar certas precauções, como a aferição da pressão do paciente.
O procedimento é invasivo e deve ser realizado em bloco cirúrgico, sob condições estéreis, com devida antissepsia (com álcool iodado) do local a ser puncionado.
Uma agulha fina é inserida e o líquor é coletado por gotejamento (figura abaixo).


Coleta por gotejamento. Amostra sanguinolenta.
Obs.: gotejamento é o fluxo ideal, que denota uma pressão adequada, ao contrário do fluxo lento ou rápido (sob pressão).
As amostras são colhidas em três tubos estéreis enumerados de 1 a 3, na ordem de obtenção.
O tubo 1 é usado para análises bioquímicas e sorológicas.
O tubo 2 costuma ser utilizado para exames microbiológicos.
Por fim, o tubo 3 é destinado à contagem celular, por ser o que possui menos probabilidade de conter células introduzidas acidentalmente durante a coleta.
Se possível, ainda se colhe um quarto tubo para a microbiologia, visto que apresentará menor chance de contaminações cutâneas.

Acondicionamento das amostras                                                                                                               

O sobrenadante restante - se houver - deve ser destinado a outras análises bioquímicas. O excesso só deve ser descartado quando não há mais nenhum uso para ele.
As amostras destinadas à bioquímica e sorologia devem ser congeladas.
O tubo de contagem celular deve ser refrigerado caso não seja possível lê-lo em uma hora.
A amostra para microbiologia precisa ficar à temperatura ambiente.

Exame físico                                                                                                                                                            

  • Cor - A aparência normal e esperada é a cristalina. Pode apresentar-se, porém, turvo, xantocrômico ou sanguinolento.
a) Cristalino - Normal.
b) Turvo - Pode ser causado pela quantidade elevada de células, como leucócitos, hemácias, microrganismos e proteínas. O significado clínico associado é meningite, hemorragia, punção traumática, distúrbios que afetam a barreira hematoencefálica.
Aparência normal


c) Xantocrômico - Coloração rosada, laranja ou amarela. Causas mais comuns: produtos de degradação de eritrócitos, hiperbilirrubinemia, presença de caroteno, alta concentração de proteínas e pigmento de melanoma.


LCR sanguinolento
d) Sanguinolento - pode ser por hemorragia ou por traumas durante a coleta. Uma característica interessante de diferenciação dessas duas condições é a aparência da série de tubos: se o primeiro tubo for fortemente sanguinolento e os outros apresentarem menos sangue (irem clareando) é um indicativo de trauma de coleta. A persistência da "vermelhidão" costuma significar hemorragia. Outro fator que pode diferenciar a punção traumática é a formação de coágulos.






As análises citológicas e bioquímicas estão descritas na tabela abaixo.

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A análise microbiológica é resumida no seguinte esquema:

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Para a pesquisa de bactérias serão utilizadas a coloração de Gram, para visualização de diplococos Gram-negativos. Para cultura podemos utilizar o ágar Thayer-Martin, que é um meio seletivo para Neisseria, uma vez que contém fatores de crescimento (bactéria exigente) e antibióticos para inibir outros microrganismos. 
C. neoformans
Na baciloscopia pesquisa-se a Mycobacterium tuberculosis, ou bacilo de Koch, que não se cora pelo Gram. Na baciloscopia veremos pequenos bacilos finos e encurvados.
Para a pesquisa micológica, o agente mais importante nesse tipo de amostra é o Cryptococcus neoformans, causador da criptococose. Microscopicamente usa-se a tinta da china (nanquim), que vai permitir a visualização da cápsula polissacarídea da levedura - a tinta não penetra na célula, formando um "halo" ao redor.

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