INTOXICAÇÃO
É um conjunto de efeitos adversos produzidos por um agente físico ou químico em decorrência de sua interação com o sistema biológico, representado pelos
sinais e sintomas que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela interação. É, em outras palavras, o estado patológico
provocado pelo agente tóxico, em decorrência de sua interação com o organismo.
Logicamente,
o efeito tóxico só será produzido, se a interação com o receptor biológico
apropriado ocorrer em dose e tempo suficientes para quebrar a homeostasia do
organismo. Existem, então, na grande maioria das vezes, uma série de processos
envolvidos, desde o contato do agente tóxico com o organismo, até o sintoma
clínico que revela esta interação. Isto permite dividir a intoxicação em 4
fases distintas, a saber:
Fase de
Exposição:
corresponde ao contato do agente tóxico com o organismo. Representa a
disponibilidade química das substâncias químicas e passíveis de serem
introduzidas no organismo.
Fase
Toxicocinética: consiste no movimento do AT dentro do organismo. É formada pelos
processos de absorção, distribuição, armazenamento e eliminação
(biotransformação e excreção). Todos esses processos envolvem reações mútuas
entre o agente tóxico e o organismo, conduzindo à disponibilidade biológica.
Fase
Toxicodinâmica: corresponde à ação do AT no organismo. Atingindo o alvo, o agente
químico ou seu produto de biotransformação interage biológicamente causando
alterações morfológicas e funcionais, produzindo danos.
Fase Clínica: corresponde à manifestação
clínica dos efeitos resultantes da ação tóxica. É o aparecimento de sinais e
sintomas que caracterizam o efeito tóxico e evidenciam a presença do fenômeno
da intoxicação.
(Confira nossa postagem sobre as FASES DA INTOXICAÇÃO!)
EFEITOS TÓXICOS
São os efeitos adversos causados por substâncias
químicas. Assim, todo o efeito tóxico é indesejável e nocivo. Mas nem todos
efeitos indesejáveis são tóxicos.
Efeito
idiossincrático
As
reações idiossincráticas correspondem às respostas quantitativamente anormais a
certos agentes tóxicos, provocados por alterações genéticas. O indivíduo pode
ter uma resposta adversa com doses baixas (não-tóxicas) ou então ter uma
resposta extremamente intensa com doses mais elevadas. Exemplo: sensibilidade
anormal aos nitritos e outros agentes
metemoglobinizantes, devido a deficiência, de origem genética, na
NADH-metemoglobina redutase.
Efeito
alérgico
Reações
alérgicas ou alergia química são
reações adversas que ocorrem somente após uma prévia sensibilização do
organismo ao AT, ou a um produto quimicamente semelhante.
Na
primeira exposição, a substância age como um hapteno promovendo a formação dos
anticorpos, que em 2 ou 3 semanas estão em concentrações suficientes para
produzir reações alérgicas em exposições subsequentes.
Alguns
autores não concordam que as alergias químicas sejam efeitos tóxicos, já que
elas não obedecem ou apresentam uma relação dose-resposta (elas não são dose
dependente). Entretanto, como a alergia química é um efeito indesejável e adverso
ao organismo, pode ser reconhecido como efeito tóxico.
Efeito
imediato, crônico e retardado
- Efeitos Imediatos ou agudos são aqueles que aparecem imediatamente após uma
exposição aguda, ou seja, exposição única ou que ocorre, no máximo, em 24
horas. Em geral são efeitos intensamente graves.
- Efeitos crônicos são aqueles resultantes de uma exposição crônica, ou seja, exposição a
pequenas doses, durante vários meses ou anos. O efeito crônico pode advir de
dois mecanismos:
(a) Somatória
ou Acúmulo do Agente Tóxico no Organismo: a velocidade de eliminação é menor que a de
absorção, assim ao longo da exposição o AT vai sendo somado no organismo, até
alcançar um nível tóxico.
(b) Somatória
de Efeitos:
ocorre quando o dano causado é irreversível e, portanto, vai sendo aumentado a
cada exposição, até atingir um nível detectável; ou, então, quando o dano é
reversível, mas o tempo entre cada exposição é insuficiente para que o
organismo se recupere totalmente.
(c) Efeitos retardados são aqueles que só ocorrem após um período de latência, mesmo quando
já não mais existe a exposição. Exemplo: efeitos carcinogênicos que têm uma
latência a 20-30 anos.
Efeitos
reversíveis e irreversíveis
A
manifestação de um ou outro efeito vai depender, principalmente, da capacidade
do tecido lesado em se recuperar. Assim, lesões hepáticas são geralmente
reversíveis, já que este tecido tem grande capacidade de regeneração, enquanto
as lesões no sistema nervoso central (SNC) são geralmente irreversíveis, uma
vez que as células nervosas são pouco renovadas.
Efeitos
locais e sistêmicos
O efeito local refere-se àquele que ocorre no local
do primeiro contato entre o AT e o organismo. Já o sistêmico exige uma absorção
e distribuição da substância, de modo a atingir o sítio de ação, onde se
encontra o receptor biológico. Existem substâncias que apresentam os dois tipos
de efeitos. (ex.: Benzeno, chumbo tetraetila, etc.).
Efeitos
resultantes da interação de agentes químicos
O
termo interação entre substâncias químicas é utilizado todas as vezes em que
uma substância altera o efeito de outra. A interação pode ocorrer durante a
fase de exposição, toxicocinética ou toxicodinâmica. Como conseqüência destas
interações podem resultar diferentes tipos de efeitos:
- Adição: É aquele produzido quando o efeito final de 2 ou mais agentes é
quantitativamente é igual à soma dos efeitos produzidos individualmente.
Ex.: Chumbo e arsênio atuando a nível da biossíntese
do heme (aumento da excreção urinária da coproporfirina).
- Sinergismo: Ocorre quando o efeito de 2 ou mais agentes químicos combinados, é
maior do que a soma dos efeitos individuais.
Ex.: A hepatotoxicidade, resultante da interação
entre tetracloreto de carbono e álcool é muito maior do que aquela produzida
pela soma das duas ações em separado, uma vez que o etanol inibi a
biotransformação do solvente clorado.
- Potenciação: Ocorre quando um agente tóxico tem seu efeito aumentado por atuar
simultaneamente, com um agente “não tóxico”
Ex.: O isopropanol, que não é hepatotóxico, aumenta
excessivamente a hepatotoxicidade do tetracloreto de carbono.
- Antagonismo: Ocorre quando dois agentes químicos interferem um com a ação do outro,
diminuindo o efeito final. É, geralmente, um efeito desejável em toxicologia,
já que o dano resultante (se houver) é menor que aquele causado pelas
substâncias separadamente. Existem vários tipos de antagonismo:
(a) Antagonismo químico: (também chamado neutralização) ocorre quando o
antagonista reage quimicamente com o agonista, inativando-o. Este tipo de
antagonismo tem um papel muito importante no tratamento das intoxicações. Ex.:
Agentes quelantes como o EDTA, BAL e penicilamina, que sequestram metais (As,
Hg, Pb, etc.) Diminuindo suas ações tóxicas.
(b) Antagonismo funcional: ocorre quando dois agentes produzem efeitos
contrários em um mesmo sistema biológico atuando em receptores diferentes. Ex.:
Barbitúricos que diminuem a pressão sanguínea,
interagindo com a norepinefrina, que produz hipertensão.
(c)Antagonismo não-competitivo, metabólico ou farmacocinético: é quando um fármaco altera
a cinética do outro no organismo, de modo que menos AT alcance o sítio de ação
ou permaneça menos tempo agindo. Ex.: Bicarbonato de sódio que aumenta a
secreção urinária dos barbitúricos; fenobarbital que aumenta a biotransformação
do tolueno, diminuindo sua ação tóxica.
(d)Antagonismo
competitivo, não-metabólico ou farmacodinâmico:
ocorre quando os dois fármacos atuam sobre o mesmo receptor biológico, um
antagonizando o efeito do outro. São os chamados bloqueadores e este conceito é
usado, com vantagens, no tratamento clínico das intoxicações. Ex.: Naloxone, no
tratamento da intoxicação com opiáceos. Atropina no tratamento da intoxicação
por organofosforado ou carbamato.
Referências: Leite, E.M.A; Amorim, L.C.A. Noções Básicas de Toxicologia. 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário